Despertador...

Ainda era escuro quando o despertador tocou. Com um gesto rápido e mortal ela esticou o braço carcando a mão sobre o botão que desligava aquele barulho atordoante de bi-bi-bi-bi que insistia em acordá-la. 6a.m. e uns 3 graus negativos do lado de fora. Não fazia muito tempo que ela pegara no sono, isso porque, geralmente, 6a.m. era o horário que ela voltava para casa - se é que poderíamos chamar aquilo de casa (mas mais tarde falo sobre ela)-. Largou sua terra natal e sua vidinha cômoda para dar vazão à adolescente inconsequente que ficara guardada no seu eu durante alguns anos. Há quem diga que a falta de juízo manifestou-se meio tarde nela, ou melhor, às avessas!!! Mas ela não ligava muito e simplesmente dava de ombros quando alguém resolvia atormentá-la com tal assunto. Como um ventinho chato, aquele blablabla todo, entrava por um ouvido e saia facilmente pelo outro. Ah sim, onde ela morava você, certamente, deve estar se perguntando!! Largara tudo por Londres... A casa grande e as contas pagas por aquele cafofo e aquele pub barato que mal dava pro gasto. Mas enfim, àquela altura do campeonato, não era nenhum sacrifício trabalhar até tarde, tomar umas com as outras garçonetes, dormir até tarde e aproveitar o dia cinzento londrino. Mas voltando ao 6a.m. ... "Inferno, como se faz pra acordar cedo mesmo?? Já nem me lembro mais... Acho que desligar o despertador e virar pro lado pra dormir mais 5 minutinhos é um bom jeito de começar". E passam 5, e mais 5, e mais 5 até que a consciência - maldita - resolve cutucá-la e fazê-la saltar da cama como um trovão. "Ai meu Deus, tira pijama, coloca blusa, coloca calça, será que hoje chove? Par de meia... Jesuuuuuus cadê meu par de meia??" E lá sai ela... Bate a porta, esquece a bolsa, volta pra pegá-la, aquela última olhada no espelho, examina bem os dentes e segue caminho. Pra onde?? Só Deus sabe...